segunda-feira, 5 de março de 2012

A humanização da saúde seria a solução?

Mesmo com os altos progressos da saúde pública nas últimas décadas, que facilitaram a sua democratização — o Programa Nacional de Imunizações erradicou males como a paralisia infantil e assumiu o controle da Aids —, estamos aquém de uma saúde que atenda a população, pois implantar um sistema de gestão numa sociedade contemporânea requer mudança de atitudes para que a banalização não seja uma aliada para acelerar a desumanização.
Pois o humano, na ânsia de superar fronteiras, foi deixando pelo caminho os aditivos de valores, e é exatamente a deficiência desse antídoto que dificulta as ações da Política Nacional de Humanização da Atenção e da Gestão em Saúde (PNH) ou que o projeto de humanização no SUS, conhecido por HumanizaSUS, seja aplicado para aliviar a dor de muitos, cujas vidas dependem desses serviços.
Essas barreiras nos distanciam do alvo de uma saúde sem excluídos, e o discurso humanamente correto, na realidade, não passa de hipocrisia de um governo que não tem políticas públicas nem ambições para sanar os problemas daqueles que ambicionam condições mínimas para usufruírem do direito à cidadania.Porém, adotar uma Política de Humanização, na qual a transversalidade é o grande desafio, estabelece versatilidade para superar a deficiência de solidariedade e implantar redes cooperativas. Essas ações vão além de atos solidários. É necessário comprometimento. Comprometimento que transforme o individualismo em atuações coletivas, o olhar unificado num foco que atinja um todo... Afinal, humanização é tematizar o sócio-histórico e integrá-lo aos princípios da integridade humana, alargando assim os horizontes do cultivo da saúde para que as limitações, principalmente na área profissional, não se transformem em empecilhos que impossibilitem o humano de dar um passo adiante e romper a distância entre a desordem e a qualidade absoluta, para que possa converter o ambiente de trabalho num local sedutor, e que isso promova o despertar da alegria, da felicidade, tornando o trabalho um ato prazeroso.
Esse clima promove avanços que geram o contentamento do homem em atuar na sua área profissional, atingindo melhorias no oferecimento de serviços — comércio, bancário, transporte —, o suficiente para atender às necessidades do humano como cidadão e profissional, e esse acesso a serviços e bens proporciona qualidade de vida. Vida que não necessita ser comprimida em elevadores e meios de transportes superlotados, em filas de bancos a perder de vista... Vida que, ao chegar na trajetória de cuidados distintos, não humilhe os portadores de necessidades especiais, idosos e gestantes.

Mas, entre sussurros e gemidos, uma pergunta não pode ser reprimida: É possível uma nação doente promover uma educação decente?
É imperativo aprovar leis que interrompam planos de saúde para que os representantes públicos sintam no bolso — ou na pele — que saúde não é clínica, hospitais, PSFs espargidos pelos bairros. É preciso um olhar diferenciado para fazer funcionar os mecanismos e compor a fórmula do remédio para curar a saúde do País, para, somente então, sarar a do cidadão de epidemias que se alastram proporcionadas pelo descuido e pelo descaso das autoridades competentes, dando, assim, um basta em governantes que fazem investimentos a conta--gotas, enquanto as torneiras da corrupção jorram livremente. Por isso é importante aprovar leis que determinem que esses “eficientes” representantes matriculem os seus filhos e dependentes em escolas públicas, para que a metamorfose do ente amado, provocada pela violência, e o desinteresse do professor — devido à má remuneração e às péssimas condições de trabalho — estimulem melhorias.
Quem sabe assim a fraternidade seja inserida como instrumento pedagógico para que o ambiente escolar volte a regar a sementeira do afeto, do respeito, do amor pela educação, transformando esse mundo de ambições e discórdias em um lugar melhor para se viver, pois exercitar a prática da fraternidade é plantar uma semente de esperança em corações ansiosos para descobrirem o novo, e que esse novo seja usufruir de uma saúde que não abandone nem mate e de uma educação que acolha, não que exclua. Pois a fraternidade deve ser trabalhada para proporcionar o estreitamento das relações humanas.

Sabemos que sanar problemas da saúde no Brasil é um desafio para o governo, que se vê obrigado a fazer malabarismo para superar um dos maiores problemas do setor: assistências médica, hospitalar e ambulatorial. E esse desafio elevou a distância entre saúde pública e privada, impelindo milhões a recorrerem aos planos de saúde para se resguardarem, pois somente 40% dos investimentos destinados ao setor são aplicados na saúde pública. Mas temos que aceitar que, mesmo com os baixos investimentos e com a distância entre saúde pública e privada, o Brasil evoluiu consideravelmente e é reconhecido no planeta como referência no tratamento da Aids, um modelo no combate à mortalidade infantil e um recordista na realização de transplantes.
E é preciso reconhecer que, mesmo sendo um modelo misto — no qual a iniciativa privada é livre para investir e disputar território —, o SUS surge como um exemplo, principalmente para países desenvolvidos, pois o seu modelo de prevenção sobressai como referência internacional e como um dos mais eficientes do mundo, e ainda destaca o Brasil como o país que mais vacina. E, por ter sido o primeiro do mundo a eliminar a poliomielite, a erradicar o sarampo, o Brasil fez do setor de Epidemiologia um dos mais eficientes do planeta, a ponto de criar vacinas em questão de dias.
Esse avanço não proporcionou apenas melhorias na vida de milhões, mas também estendeu a expectativa de vida do brasileiro, e esse horizonte, a cada amanhecer, nos oferece uma nova oportunidade para resgatarmos valores ou prosseguirmos destruindo principalmente a chance de sermos felizes. E, ao abrirmos mão desse momento mágico, rejeitamos a oportunidade de fazermos do Brasil um país melhor para se viver, pois podamos das novas gerações o ensejo de fazerem algo que pode alterar o curso da trajetória humana e conduzi-la a um lugar onde a saúde seja amparo e a educação, uma garantia de vitória, pois a fraternidade imperará entre os homens.
Fonte: construirnoticias.com.br

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