O ano de 2013 é, de alguma forma, o Ano da Juventude. O encontro dos
jovens com o Papa no Rio de Janeiro, a Campanha da Fraternidade e o Ano
da Fé constituem convites a que venhamos organizar uma sistemática
pastoral dos jovens. Tarefa ingente, complexa e delicada. Urgente
pensar no assunto. A Igreja de amanhã, nesse mundo em transformação,
precisa de um laicato maduro, de casais maduros, de políticos maduros,
de gente nova por dentro. Nossa reflexão nesta rubrica Pastoral pretende
lançar um olhar sobre o mundo que vivem os jovens. Tocamos apenas em
alguns pontos. Cabe aos leitores desta “Revista Eletrônica” completar o
elenco das situações concretas em que vivem os jovens e, sobretudo,
imaginar uma possível pastoral (ou evangelização) dos jovens.
Vivemos um tempo de transformação. Há a crise econômica e social. Há
a crise eclesial. Há a crise cultural. Morre um mundo e nasce outro.
Morre um modo de viver a fé. O que é ser cristão nesse mundo novo vago
que se delineia a duras penas. Ora, os jovens são aqueles que poderão
ser protagonistas desse novo nascimento. Poucas de nossas comunidades,
no entanto, conseguem organizar e alimentar uma pastoral juvenil. Em
que mundo vivemos nós e os jovens?
1. Vivemos o tempo do imediato, do que precisa ser feito aqui e agora, sem delongas, sem demora.
O que desejo, quero para já, aqui e agora. Nem sempre esse desejo do
imediato é acompanhado pela reflexão. Não sabemos colocar o pé no
freio. Compramos o que temos vontade de comprar e pagamos a crédito, com
cartão de crédito, com pagamentos a perder de vista. Mas queremos
agora. Essa característica da busca do imediato lembra os caprichos de
uma criança que pensa que tudo se lhe deve e que esperneia enquanto não
consegue o que quer na rua, no metrô, na igreja e na sala de espera do
consultório médico. As pessoas querem tudo rapidamente e não se dão o
tempo de pensar, de escolher, de decidir com um mínimo de
discernimento. O tempo da juventude não seria o tempo de escolhas
importantes que marcam a vida de uma pessoa para sempre? Será possível
melhorar nossas escolhas?
2. A realidade é como um líquido que escorre por entre os dedos.
Nada passa a impressão de ser sólido. Os relacionamentos são fugazes:
casamento, amigos, convicções. Como uma pessoa jovem se situa nesse
mundo líquido de que fala Zygmund Bauman? Onde o jovem encontrará uma
âncora vital que o ajude a navegar no vaivém das oscilações da vida? O
mundo nunca foi estático. Mas hoje é “louco”. É possível encontrar um
sentido último para a vida e que oriente as decisões e ajude a construir
projetos existenciais que valham a pena?
3. Vivemos num mundo descosturado. As coisas não estão
interligadas. Cada fragmento tem sua lógica, obedece a seus
princípios, contém seus “valores”, uns separados dos outros. Jovens
vivem essa descostura na carne. Muitos deles trabalham para ajudar na
renda familiar, fazem estudos à noite, ou ensino fundamental, ou
faculdade. Não têm tempo de aprofundar seus estudos e nem de conhecer-se
a si mesmos. Derramam-se nas coisas e nos finais de semana precisam
uma válvula de escape: namoricos, por vezes para distração, bebida e
certas fugas no mundo das drogas. Precipitados envolvimentos amorosos
podem redundar numa gravidez. Como esses jovens tão ocupados poderão
participar de grupos de jovens, de espaços de iniciação cristã e de
reorganização de seu universo? Como viver com eles? Como eles poderão
sentir beleza da fé vivida por outros?
4. Há jovens de todos os tipos e horizontes. Vemos uma certa juventude que cresce em ambientes familiares de compreensão, de harmonia.
Crianças que encontram regularmente os pais, que sentem a firmeza do
relacionamento dos mesmos, que vivem segurança na vida, apoiadas no
sólido amor dos pais. De outro lado vemos jovens que vivem em ambientes de profunda hostilidade familiar.
São filhos de mães solteiras, criados pelas avós. Jovens que têm
conviver com “meio-irmãos”, filhos do novo companheiro da mãe. A mãe e
seu novo companheiro não vão viver o tempo todo juntos. É coisa apenas
por um tempo. O que realmente se passa na cabeça desses jovens? Onde
estão? Como fazer pastoral com eles? Quando tentar atingi-los com o
Evangelho?
5. Nossos jovens crescem num ambiente marcadamente consumista.
O mundo é consumista. A vida é consumista. Os meios de comunicação
falam de consumo, convidam ao consumo. Consumo de bens, consumo de
coisas modernas, de viagens, de pessoas. Como fazer com que ressoe
nesta sociedade de consumo o espírito de desprendimento do Sermão das
Bem-aventuranças?
6. Vivemos a cultura do êxito. É preciso vencer na vida. Há
a competição. Competição que estressa. Competição que aponta para uma
certa eliminação do outro. Há famílias que treinam os filhos para
estudar, vencer na vida e assim poderem desfrutar de folgada situação
financeira em suas vidas. Êxito e sucesso também nos relacionamentos
amorosos: corpos sarados, bem cuidados, cuidados demais. Meninas magras
e rapazes “bonitos”. Culto das aparências: beleza do corpo, viagens,
carros e facilidades.
7. “Construímo-nos como pessoas em relação com os outros. O jovem
de hoje, como nunca antes, vive possibilidades de comunicação e de
relacionamentos quase ilimitadas. Que jovem não se serve das redes
sociais com centenas de amigos nesses fóruns? Os jovens de hoje
conhecem melhor o mundo do que aqueles de gerações anteriores. Também
se deslocam e se locomovem muito mais. Com tudo isso, a solidão parece
ser uma ameaça real para não poucos jovens. Nem sempre conseguem viver
uma amizade em profundidade. Vínculos que pareciam muito estáveis se
desfazem com relativa facilidade. Há jovens que chegam aos trinta anos
numa dificuldade de encontrar seu par com quem construir sua vida. Pode o
evangelho ajudar a viver vinculações mais sólidas, mais estáveis, de
pessoas mais comprometidas umas com as outras?” (Abel Toraño Fernández, SJ, Jóvenes e nueva evangelización: escenario y desafios, Sal Terrae, 100 (2012), p. 529-530).
Questões:
● O que chamou sua atenção neste texto?
● O que mais diria a respeito do mundo em que vivem os jovens?
Frei Almir Ribeiro Guimarães
Fonte: franciscanos.org.br
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